Vítimas da Moda: Tecidos que estão nos envenenando

Alden Wicker

Vítimas da Moda: Tecidos que estão nos envenenando

Doris Treptow

O livro "To Dye For: How Toxic Fashion is Making Us Sick – and How We Can Fight Back" de Alden Wicker é um alerta importante sobre os perigos de substâncias tóxicas nas roupas. Com uma extensa pesquisa, a autora expõe como produtos químicos perigosos, como metais pesados e corantes azóicos, são amplamente utilizados na indústria têxtil e da moda, muitas vezes sem regulamentação adequada ou testes suficientes para verificar o resíduo de toxinas nas roupas.  

Não se trata apenas do local de origem de nossas roupas. Não, nem tudo que é feito em [escolha o nome do país que preferir] é tóxico. Wicker comprova que em uma mesma localidade existem tinturarias responsáveis e certificadas, bem como empresas em instalações improvisadas que desconsideram condições de segurança para funcionários. O risco não termina na exposição dos trabalhadores e contaminação da água e solo. Artigos com teor tóxico muito acima do permitido acabam chegando aos consumidores por causa de grandes falhas do sistema em que opera a cadeia produtiva. A primeira dessas falhas é o fato de que para muitos dos produtos químicos utilizados sequer existem pesquisas que comprovem sua segurança para o contato com a pele; apenas assume-se que são seguros. Alguns, conhecidos carcinogênicos ou disruptores endócrinos, são regulados, mas os limites aceitos variam de um país para outro.

Wicker investiga a entrada de produtos têxteis nos Estados Unidos e sua fiscalização através de testes. Ela aponta que os testes são incompletos, ou seja, não testam para boa parte das toxinas, e são realizados por amostragem. Nem todos os produtos são testados. Por exemplo, a legislação vigente solicita que testes para artigos de uso infantil sejam examinados, mas não exige o mesmo para artigos de uso adulto. A situação é pior ainda com os produtos importados diretamente por consumidores através de compras online, pois esses produtos entram como compras individuais e não como lotes de atacado, e assim evadem qualquer fiscalização.

Na perspectiva de uma consumidora de produtos têxteis, "To Dye For" é assustador, pois a única forma economicamente viável de perceber se um produto causa reações adversas é a partir do seu uso. Nisso, somos todos cobaias. Wicker detalha casos perturbadores, como comissários de bordo, que desenvolveram problemas de saúde devido à exposição prolongada a uniformes contaminados. A autora apresenta recomendações práticas, como lavar as roupas antes do primeiro uso e arejar roupas que tenham recebido lavagem à seco antes de guardá-las. Ela sugere a exigência de listas de ingredientes para artigos têxteis (semelhantes às encontradas em alimentos), e a implementação de testes mais rigorosos e uma maior incidência de testes.

No entanto, o livro poderia ser aprimorado com mais detalhes técnicos sobre a química têxtil e o uso específico de substâncias perigosas nos processos de beneficiamento. Existe um capítulo sobre corantes azóicos e curtimento de couro com cromio, mas poderia haver mais informações que ajudassem o leitor a entender o motivo do uso de determinidos elementos tóxicos. Uma contribuição de especialistas químicos traria mais esclarecimento sobre esses aspectos complexos.

Apesar dessa limitação, "To Dye For" é uma leitura interessante para consumidores conscientes e fundamental para profissionais da indústria e formuladores de políticas de proteção ao consumidor e saúde pública. Ele destaca uma questão frequentemente negligenciada e incentiva mudanças urgentes para proteger a saúde humana e o meio ambiente.

A força do livro está em expor uma realidade sombria e muitas vezes invisível por trás das roupas que vestimos. Ao compartilhar histórias impactantes e dados alarmantes, Wicker convoca a uma ação coletiva para tornar a indústria têxtil mais transparente, responsável e segura para todos.